Tudo que existia aqui dentro foi expulso através das lágrimas que tomaram conta de mim no início da tempestade – ninguém conseguia enxergar a solidificação do meu profundo sofrimento porque a chuva se encarregava de esconder. A dor, o frio, aaaah o frio, cheguei a pensar que nunca acabaria... me acostumei e sem que eu percebesse a imensa tempestade agora não passava de garoa, por algumas vezes, pensei ver um brilho no céu, mas logo me distraia na minha saudade e quando voltava a procurar por ele vinham as nuvens e o cobriam novamente. Os dias se tornaram tão nublados, o calor do sol era apenas uma lembrança cada vez mais vaga, é como se houvesse se passado séculos desde a última vez que o senti... estava andando sem saber exatamente onde eu queria chegar, na verdade, sem querer chegar a lugar algum. Olhando para baixo em uma poça d’água mais uma vez observei aquele brilho distante no céu só que dessa vez me apeguei a ele, era a minha distração naquele mundo sombrio, naquele meu mundo sombrio (...) eu o queria, o desejava, e temia perde-lo, adormeci o admirando, despertei assustada; e se ele não estivesse mais lá? Por um tempo não consegui abrir os olhos, a cada tentativa meus olhos queimavam então decidi permanecer com eles fechados e pude sentir o calor, fui tentando lentamente me acostumando com aquele brilho intenso... era um novo sol, e com ele o teu olhar, o teu abraço, o teu beijo, o teu carinho, o teu cheiro, o teu calor.

- Agatha Rodrigues